September 21, 2004

Vululante coloidos são nossos seres...

ADORMECIDA
Uma noite, eu me lembro... Ela dormia Numa rêde encostada molemente... Quase aberto o roupão... sôlto o cabelo, E o pé descalço no tapête rente.
'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste Exalavam as silvas da campina... E ao longe, num pedaço do horizonte, Via-se a noite plácida e divina.
De um jasmineiro os galhos encurvados, Indiscretos estravam pela sala, E de leve oscilando ao tom das auras, Iam na face trêmulo - beijá-la.
Era um quadro celeste!... A cada afago, Mesmo em sonhos a môça estremecia... Quando ela serenava... a flor beijava-a... Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...
Dir-se ia que naquele doce instante Brincavam duas cândidas crianças... A brisa, que agitava as fôlhas verdes, Fazia-lhe ondear as negras tranças!
E o ramo ora chegava, ora afastava-se... Mas quando a via despertada a meio, Pra não zangá-la... sacudia alegre Uma chuva de pétalas no seio...
Eu, fitando esta cena, repetia Naquela noite lânguida e sentida: - "Ó flor, tu és a virgem das campinas! Virgem, tu és a flor de minha vida!..."
CASTRO ALVES

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