April 7, 2008

Ponto de Vista

Não gosto muito de dizer das realidades cotidianas, minhas "poesias" não são engajadas.
Talvez nem sejam muito inteligentes, ou interessantes, mas é o mote dos meus posts, da maioria ao menos. Porém o fato de ser professora na rede pública municipal tem provocado algumas mudanças na minha vida. E meus posts, talvez, por vezes venham refletir isso. Acredito que coisas dessa natureza ocorra na vida de todo mundo que decide fazer algo para trasformar a dureza das áreas pobres, miseráveis e ásperas de suas localidades. É por isso que escolhi a carreira no magistério, pela possibilidade de um acerto de contas com os investimentos que já foram feitos na minha vida estudantil, nos momentos em que estudei em escolas públicas. Pela possibilidade de dar um pouco daquilo que considero bom em mim, minhas idéias, meu modo de compartilhar experiências, de compreender o outro, minha abertura para ensinar-aprender, pela possibilidade da invensão, criação de novas metodologias, novas reflexões sobres os sujeitos da educação, ou ao menos reelaborações do que já conhecemos, sobre as teorias que informam as práticas escolares.
Tenho percebido que há um discurso de escolarização que se sobrepõe às práticas educativas. Importa saber fazer ler e escrever, importa saber fazer contar, ser higiênico e tanto mais, mas como se ensina isso é que "mata". São as matrizes de exercícios alheios ao dia-a- dia que dizem aos educando como viver, quando dizem... Sabe-se lá se há colgate para ser usado, se o caracol já foi visto de perto, se se brinca com o dado. Não, não se sabe. O que se sabe é que os conteúdos são importantes. E são significativos? Isso não se sabe, não se pensa nisso, vai falar sobre isso na sala dos professores durante o café...vai! Vejo que o trabalho docente transformou-se em trabalho puro e simples. Onde deveria haver complexidade há simplificação e as coisas e discuções vam se reduzindo até chegar ao ponto de acontecer um ensino-aprendizagem alienada. Alienada à realidade dos educandos, alienada as manifestações culturais, alienada ao próprio docente. Alienada!


“Não basta saber ler mecanicamente ‘Eva viu a uva’. É necessário compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir uvas e quem lucra com esse trabalho.”
(Paulo Freire, in Moacir Gadotti, Paulo Freire: Uma Biobibliografia, 1996.)

Eu diria também que é preciso conversar com Eva, ver onde mora, saber seus sonhos, saber do seu universo socio-cultural, os espaços que ela freguenta, etc.
Educar para mim é construir e partilhar visões de mundo. É isso que está na base da minha prática.

2 comments:

Anonymous said...

Parabéns, Kelly! É disso que o ensino público precisa engajamento dos professores.

Abraços,

Lucas

Maritaca said...

Olá Lucas, saudades de vc...
obrigada pela visita.
bjs