September 21, 2008

Cabelo: símbolo ambulante


Esses dias eu tenho observado o modo como as mulheres usam seus cabelos.
Isso sempre me interessou, pois penso no cabelo como um termômetro de emoções, como um "símbolo identitário", uso aspas porque existem estudos sociológicos sobre isso, esse é, portanto, um conceito sobre o cabelo. O cabelo para mim é então um dizer interior: estou bem, estou feliz, estou mal, ou hoje vou arrasar, e por aí vai.
No meu atual e mais usado meio de transporte cotidiano, o metrô, é um entra e sai mais constante que nos ônibus, e por isso entram e saem muitas mulheres de diferentes cores, expressões e cabelos. São cabelos crespos, muito cheios, ou menos cheios, levemente ondulados, lisos, indefinidos, grisalhos, pretos, vermelhos, azuis, louros, e muito mais. Cabelo é coisa diversificável. Reparo muito mais no cabelo das mulheres que no dos homens, pois me parece que as mulheres se preocupam muito mais com suas madeixas. A maioria dos homens corta ou raspa e pronto. O cabelo, nas mulheres, parece fazer a cabeça, conduzir movimentos faciais, demonstrar charme, ou ainda ser uma espécie de esconderijo. Penso que existem mulheres que se escondem, escondem seus rostos sob muito cabelo, cabelos muito longos, ou muito mal cuidados.
Talvez tudo isso seja parte do que podem demonstrar, do que querem demonstrar, mesmo que sem consciência disso. Sou muito aflita com meus cabelos. Já os pintei várias vezes, principalmente de vermelho, mas nunca pegou direito, pois não tive coragem de descolori-los antes de aplicar o vermelho. O preto é um tom forte demais para se dobrar a outras nuances. Hoje vou pro metrô com meus cabelos mais soltos. Porém, o cacheado negro já me deu muita dor de cabeça, pois queria meus cachos mais soltos, mais ao controle. Assim é meu cabelo hoje, mais controlado. E isso diz muito sobre mim. Gosto de estar no controle das situações, não gosto de usar certos tipos de drogas por isso, me deixam fora do meu controle. Gosto que o meu cabelo faça minha vontade.
Assim talvez seja o desejo de grande parte das mulheres que tenho observado. Elas trazem em seus rostos uma moldura que lhes convém, que diz, também, do nível de envolvimentos com algumas questões, como por exemplo, as lindas mulheres militantes da questão da valorização do/a negro/a. Essa luta por uma mudança de padrão estético passa muito pela corporeidade, e principalmente pelo cabelo.
E isso eu observo no metrô. Quando vejo uma mulher negra de cabelos trançados ou de Black logo me vem a imagem dessa mulher-militante. Mesmo que essa mulher que estou vendo não seja uma militante ela carrega na cabeça um símbolo de luta, ela está à mercê de várias leituras sobre seu cabelo e sobre sua pessoa, leituras das mais variadas interpretações. E isso é muito interessante! Ando observando e refletindo. Depois conto mais.

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