November 23, 2008

Uma mulher

Cruzei a rua e vi uma mulher parada. Ela parecia ter uns quarenta, cabelo castanho, escorrido, pele alva, boca mole, meio aberta. Estava encostada no poste, pernas juntas, usava um decote poderoso. Tinha uma coisa de comunicação no olhar. Era como se dissesse: Será que não vem... Parecia ser uma mulher experiente, tinha algumas linhas de expressão acentuadas, bonita.Uma beleza que não agride, uma beleza que parece eterna. Naquele momento ela era eterna, imóvel, como num quandro emoldurado na parede de uma casa; na moldura dos meus olhos. Carregava uma bolsa verde. O que será que tinha dentro daquela bolsa? Talvez um xale preto que combinasse com aqueles seus belos e grandes olhos negros, baton, perfume, escova de cabelo, documentos, dinheiro, o nada. Ela parecia portar um segredo, de fato ela parecia misteriosa, parecia um pouco aflita. Esperando. Acesa. Desejosa de uma companhia. Na verdade eu não conseguia imaginar outra coisa sobre aquela mulher, não saía da minha imaginação a possibilidade de ela ter uma revelação a fazer a alguém, porque em seu olhar havia duas brasas de fogo, duas chaves. A saia dela, um pouco abaixo do joelho, revelava pernas torneadas e pele macia. As vezes ela se balansava um pouco, como que pra espantar o tédio da espera. Certo momento ela olhou para o céu, pensou, talvez, no tempo, olhou o relógio, viu que já tinha se passado muito tempo, caminhou para o ponto de ônibus, parou. Tudo mudou. Ela estava retornado, indo a algum canto, talvez atrás de quem a fizera esperar, ou indo simplesmente para casa. Recomeçou o ritual da espera. Agora sem tanta demora. Um ônibus parou, ela entrou. Levantei e me fui também.

1 comment:

Daniel Lemos said...

Humm... me identifiquei com esta história, tenho um poema parecido, depois te mando!

Mulheres... sempre misteriosas, incalcançáveis... mas homem é incansável, e nunca se cansa de buscar o segredo feminino, mesmo sabendo que nunca conseguirá.